Folclore e Lenda I
No rastro encantado da lenda brasileira
Da Mula Preta, Mapinguarí e Matinta-Perêra
Do conto de Negro e de Índio que encanta a língua e segue falado
Mora o segredo contado de antepassado, Folclore quase apagado
Rezo baixinho ao Padre Cícero meu Padim Ciço
Pra me dar viço, me deixar longe do vício
Que me dê um amor de Jaebé pra virar João-de-Barro
E que me proteja do Capelobo e da Mulher do Padre, agora eu narro
A crença na Iara, Mãe de Ouro, Mãe d’água
Histórias que o Preto Velho volta e meia rimava
Do Boitatá, do Boto Rosa, Pisadeira e Mãe do Mato
Da Besta Fera que fazia matuto correr desembestado pelo roçado
Mãe conta do Famaleal, Diabinho da Garrafa feito Cramulhão
Do Curupira de Caititu de lança e arco e flecha na mão
Caipora que pede fumo de rolo e cachimbo de prenda
Com os pés voltados pra trás de olho no olho espera oferenda
O caboclo envergado cansado senta o pito
Como Saci-Pererê numa perna só, faz medo e não dá um pio
Tarde, fala da Cobra Grande, Boiúna ou Cobra Norato
Na rede desenha o chão empunhando o pau de cajado
Metade homem, metade cavalo vai simbora Canhambora
Qual lobo doende chamado Lobreu assusta senhora
Coisa ruim de cabelo comprido que vai lá no pé
Sem piedade espanca de noite Pau-de-Arara quem não te fé
O costume sussurra na taba, no fundo da choça
Coisa esquisita que sempre acontece em velório na roça
A lenda da Mandioca, menina tupi enterrada no meio da oca
E do goiano que de noite tremia com a Onça da Mão-Torta
E a Fábula do Corpo-Seco que nem mesmo o diabo queria
Da Mula sem Cabeça que corria atrás de quem fugia
Do Negro D'água com o olho na testa, da Mulher da Meia-Noite
E do Cabeça-de-Cúia, criatura careca, pesadelo de açoite
No boca-a-boca a tradição de pai pra filho
Causo dito sentado na pedra na beira do rio
Em qualquer estação quando faz calor ou morre de frio
Enquanto se vê o barco de assobio vazio fisgar o bugio
No Amazonas passa pela Vitória-Régia, uma, duas, três
Apressado de subir pra casa ribeirinho duma vez
E ouvir quietinho o velho relato do Pai do Mato e do Homem do saco
Debaixo da coberta no quarto de cabeça no quentinho do regaço
Anhangá, veado matreiro com olhos de fogo, cobra criada
Desafia tiro de arma e some rasteiro feito Onça Pintada
Caçador de garrucha prepara cilada, armadilha de pegar Chupa-Cabra
Jurupari boca torta, capeta malvado, espalha brasa no meio da mata
História do Cari, Cavalo D’água, Gralha Azul e do Sapé
Mito do Major e o Moleque, da Lagoa Santa e do Sumaré
Do Pé de Garrafa, do Guaraná, o canto do Uirapuru e Macunaíma
Lenda e magia dessa terra colorida, ilustrada e querida.