DOAÇÃO POÉTICA

Quando não escrevo

fico um pouco triste;

privo-me do enlevo

que em mim consiste.

Tento acordar o poema

que dorme tão latente;

como achar o tema

em mim agora ausente?

Mas sei que a poesia

reside sempre em mim;

amiga de nobre valia

já espera-me no jardim.

Ó, não vi você acordar

e sair na fresca manhã;

agora posso me inspirar

degustando a doce avelã.

Ainda está sonolenta

espreguiça-se e boceja;

sei que está desatenta

mas sei que me deseja.

Sobre a relva orvalhada

tão prendada, tão vaidosa;

ouve o canto da passarada

burilando-o toda dengosa.

Inspira o aroma das flores

sente o passar do vento;

sob o arco-íris multicores

renova-se em útil alento.

Gosta de ser paparicada

pelo poeta já inspirado;

como poesia ajardinada

curte o recanto arborizado.

Ó poesia, amiga fraterna

sai de mim tão natural;

parnasiana ou moderna

cumpre a poética fenomenal.

Não estou triste, ó poesia,

estou agora bem contente;

você saiu de sua moradia

para doar-se qual presente!

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 10/07/2014
Reeditado em 14/12/2014
Código do texto: T4876308
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