A espera que antecede o ponto final
“As estrelas são indesejadas agora/ Dispensem todos/ Embalem a lua e desmantelem o sol./ Despejem o oceano e varram o bosque/ pois nada agora pode servir” (W. H. Auden, in Funeral Blues)
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A ausência ocupa todos os espaços:
A mudez do cachorro
O silêncio dos passos não dados
O buraco na parede sem conserto
O fio desencapado
O remédio no vidro
O soluço mudo pelos cantos...
A ausência é igual a espera
Só que pelo inverso
Pois nela míngua a esperança
Da volta
O telefone mudo
Que espera a notícia que não quer ser dita
A maldita filosofia
Que nada explica
As religiões todas
Tolas
Que tentam acalmar os aflitos
Ah! ausência!
Parece com morte e às vezes calçam iguais
Não tem piedade
É igual à realidade, nas palavras de Fernando Pessoa
Não precisa da gente
A primavera não precisa de nós
E estação nenhum necessita
Isso é tão cruel, tão real, tão exato
“Porque tudo é real e tudo está certo.”
E “o que for, quando for, é que será o que é”.
Se isso conforta
Ou se só entorta mais a vida
Se as estrelas e o luar ainda justificam algo, não sei.
Mas é cruel saber que nada é eterno
Nem estrela, nem aço, nem o universo, nem o oceano.....
O que é certo é que isso só é certo porque real