Flores do engano
Aquelas areias enganosas
dos naufrágios passionais,
são como caules das rosas
sem flores que digam ais,
mas murmuram seus perfumes
tantas noites de soledade,
antes de perderem seus lumes
e serem flores de verdade.
Mas dessas flores enganosas
teve uma a querer-me louco,
vestida com pétalas rosas
enganou-me, mas por pouco;
queria apenas ser mais bela
que todas as desse jardim,
escapei sem dar mais trela,
agora cultivarei só jasmim.
Mas que bela é a estrelícia,
na dela sem dar tremelique,
simplicidade é ser tão chique
sem provar a própria delícia,
que é um mal vício solitário,
mesmo ao estímulo alheio,
enquanto o amor mais vário
sempre é para bom recreio,
nessa hora tão cibernética,
a mulher sempre é mais digital,
no vinte centímetros da métrica
o homem ainda é manual.
Quem assim se satifaz
de outra forma realiza
aquele que outra pele alisa
por ser no amor mais capaz?