Por que negar?
Mudez na boca, e um canto é encerrado,
Cegueira feito pedra, breu na lua,
Silêncio em gotas, noites caem na rua,
Chovem as horas num rito molhado.
Cativas de um poeta que não crê
Em um amor de rimas verdadeiras,
Estrelas pousam no que o sonho vê
Sobre os espelhos que correm sem beiras.
Cantor, acorda! É hora de afagos,
Canções de amor, de barcos velejando!
(Na lua, um fugir de adeuses vagos)
Nasce, poema! Mesmo sem um quando,
Pois, se um eco morder o pé da musa,
Não adianta negares, os sons vazam
Pelas pontas dos dedos e se cravam
No teu verso. Ouve, a música te acusa!
Vês? A boca muda se dispõe ao canto,
Teus olhos veem mais do que lamentas,
O céu pinta teus versos de acalanto,
Tempo é silêncio das horas que inventas.
Na pauta, embora negues, há uma rima,
À espera de nascer a flor do inverno.
Não negues! É magia o que te anima,
Pondo nas tuas mãos o verbo eterno.
RJ/junho 2009