HARMONIA, HARMONIA!

Ensandeço com músicas frenéticas

De elétricas guitarras e metais

Tangidos como cacos de cristais!

Eu quero é canto lírico e de galos,

De andorinhas, de gente que se cala,

Vazando sobre os vãos dos intervalos...

Não pretendo apagar o que eu faço,

Nem posso me querer o que disfarço,

Mas minha mente, agora já impaciente,

Exige que eu só voe em harmonias,

Que me vista de mares, dia a dia,

Que me dispa dos meus lerdos espasmos

E de mim, jorre apenas o orgasmo;

Que me desate dos mornos espantos,

Que eu seja canto, mato, nuvem, rios,

Que, nestes tempos de tédio e fastios,

Lance, do meu ser, o tom dos sentidos,

Capte todos bemóis e sustenidos

Em tardes de visões quentes, de alívio,

E que, na vibração da melodia,

Fonte do tudo e do nada profanos,

Onde, sem pressa, vive a solidão,

Eu me vergue à magia de um piano,

Acariciado por uma canção,

No deslizar dos sons e poesia

De feiticeiras e suaves mãos...