REFLEXO RÚSTICO

imagino se não tivesse nascido

provavelmente tudo seria igual

nada de tão diferente

mas a verdade é que alguns seres

tornam a existência doutros diferente

e o que me aterroriza

é que o fato de sermos seres

nos dar consciência de um abismo tumultuado

– são os quarks e os glúons tomando vida –

mas se aqui eu não estivesse?

sei que o meu terror

na verdade não é realmente terror

é um misto da tentativa

de querer saber o que realmente jogo

é de saber pelo menos as regras deste

ora! Quem determinou que alguma matéria

de repente se tornasse o que reluto em chamar eU

ou este eU não existe?

confesso que minha filosofia é vaga

mais não mais vaga do que tudo

ou alguém poderia me definir o infinito?

mas a “mágica” da coisa não estar aqui

estar na consciência de tudo

creio realmente que esta consciência

é mera invenção nossa

– quem sabe invenção somente minha –

talvez o mundo nem exista

seja apenas elaboração de minha vã consciência

então se eu morrer minha consciência terá morrido

e então tudo que “criei” terá evaporado

então os meus glúons viajarão

numa velocidade que a equação

de Einstein não poderá quantificar

e se algo tiver existido ou não

será simplesmente reflexo rústico

de uma existência que se apóia

na unicidade da não-existência

no paradoxo como a única forma de ciência

e da verdade dogmática como amuleto

espero apenas ter “compreendido”

o mínimo possível do nada a ser compreendido

então quando o cosmo convocar

os minerais que um dia me compuseram

estes cansados e enfadados de tudo

só terão uma resposta:

... uma única lei nos governou

a teoria quântico-caótica

heuristicamente chamada

pelos humanos de consciência

Ozimar Júnior
Enviado por Ozimar Júnior em 05/06/2006
Reeditado em 25/07/2008
Código do texto: T169777