A VOZ DO COTIDIANO
Havia nas árvores, dezenas de pássaros cantando,
Mas o barulho da construção era muito estridente.
Não notamos que um sol vermelho estava raiando,
A atenção era no semáforo e no carro da frente.
Aflitos com a condução que estava para chegar,
Não notamos a criança inventando uma brincadeira.
No banco da praça um idoso gostaria de prosear,
Mas só queríamos saber da nova crise financeira.
Um belo arco-íris enfeitava o azul anil do céu,
Mas a briga na rua foi o mais importante evento.
Havia uma poesia escrita num pedaço de papel...
Ninguém leu! Passava na TV um filme violento.
Por causa de dívidas que nos atolam até o pescoço,
As viagens de férias planejadas não são mais viáveis.
Era a intenção reunir toda família para um almoço...
Ninguém apareceu! Os compromissos são inadiáveis.
O filho aguardou o pai chegar para contar novidades...
Que pena! O pai chegou cansado e não quis lhe ouvir.
As pessoas querem demonstrar que têm qualidades,
Mas o mundo só quer saber de onde o lucro vai surgir.
Todos os dias nos esbarramos nas ruas lotadas,
Mas é na tela fria da internet que nos conhecemos.
As coisas boas da vida muitas vezes são desprezadas...
Detalhes tão importantes que sequer percebemos.
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