Ao escolhido (A todos os pais)

Quando, por uma lei suprema da vida,

Ao peito tens um ser em um vagido,

Tu, homem, sem espanto, lhe dás guarida,

Aos céus tu oras: teu filho é já nascido!

Não veio à luz, gerado pelo teu ventre,

Mas tua é a semente que outro germina.

Bendize a vida! Que teu amor se centre

No riso dessa boca em ti matutina.

Se dentre os homens foste tu escolhido

Para, de um anjo-filho, seres o pai,

Anjo te fazes, tens asas, seu abrigo,

Sacia com teu sal a dor que lhe cai.

Arranca do seu peito só os espinhos

Aqueles que se cravam feito ferida.

Teu filho nasceu e, como os passarinhos,

As asas vão levá-lo para a vida.

Ele há de se fazer em ti poesia,

Ou nuvem, quando brinca com a aragem.

Cantor, ele é teu pássaro de alegria,

Aos que o amarem, tu lhes serás roupagem.

Nos seus sonhos, também tu sonharás,

Amor lhe dando com teu braço forte.

Que sejas um amigo, assim te bastarás;

Com ele, sempre irás dourar tua sorte

E, quando te cansares das naus escuras,

Repousa nele teu olhar, mansamente,

Vislumbra tua obra, é das mais puras,

Depois tu vais dormir; teu sono, somente...