Eu poesia

Ao som dos concertos do universo,

Serei vales, rios, montes, mundo em verso...

Regarei o homem com vinho e azeite,

Do meu seio farto jorrará mel e leite,

Da branca ovelha serei o fio de lã

Para que se aqueça o frio da manhã...

Minha fronte, veio quente de água doce,

Proverá todos olhos como lágrima fosse...

Tocarei os rebanhos, pois sou o grito,

E na mão do pastor o cajado bendito...

Espalharei minha luz alva como a neve

Sobre cabelos em que o tempo se atreve...

Pintarei, entre os sons e o infinito céu,

Nuvens ligeiras deslizando como um véu...

Plantarei asas nos ombros sonhadores,

E sóis nascerão dos ventres, sem dores...

Tristeza, de tanta ternura apenas brincará,

Esquecido o fado tirano que a fez tão má...

Naquele penhasco onde o mar se quebra,

Espumas nevadas farão macia a pedra,

E o tempo, que na pressa nada respeita,

Notando que o homem de amor se enfeita,

Descansará do todo infindo que se perdeu...

Irá lentamente...renascer do que morreu.

Porque eu sou a que vive na ventania,

Sou mulher, deusa, amor e vida...

...eu poesia.

(Poema que deu origem ao livro, Eu poesia, publicado em 2001)