Cogito ergo sum

Tiraram-me as mãos e mutilaram-me a alma;

Serraram-me os pés e trieraram-me os caminhos;

Cessarram-me os sons das luzes e minha fala tornou noite;

Cegaram-me a calma na perfídia das masmorras e tive frio nos lábios;

O sabor do medo assusta e descompassa-me o rito.

Respiro. Um vulto na lama denuncia que lágrimas me buscam;

Mataram meu corpo.

Assírios me apontam. Espartanos me desejam. Romanos me aguardam;

Descartam-me ao bel prazer das coisas. Sou morto peso.

Mataram o meu corpo? Duvido.

Descartes me sorri. Duvido, logo penso e assim sou. Existo.

E hei de existir mesmo em pedaços;

Mataram meu corpo. Jamais meu pensamento.

Michael Wendder
Enviado por Michael Wendder em 10/10/2009
Reeditado em 10/10/2009
Código do texto: T1858700
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