Cogito ergo sum
Tiraram-me as mãos e mutilaram-me a alma;
Serraram-me os pés e trieraram-me os caminhos;
Cessarram-me os sons das luzes e minha fala tornou noite;
Cegaram-me a calma na perfídia das masmorras e tive frio nos lábios;
O sabor do medo assusta e descompassa-me o rito.
Respiro. Um vulto na lama denuncia que lágrimas me buscam;
Mataram meu corpo.
Assírios me apontam. Espartanos me desejam. Romanos me aguardam;
Descartam-me ao bel prazer das coisas. Sou morto peso.
Mataram o meu corpo? Duvido.
Descartes me sorri. Duvido, logo penso e assim sou. Existo.
E hei de existir mesmo em pedaços;
Mataram meu corpo. Jamais meu pensamento.