O passarinho da gaiola dourada

Era uma vez um passarinho que, como outros tantos, nasceu e permaneceu no ninho. Depois cresceu e a floresta conheceu.

Nos seus vôos pôde enxergar o lado bom e o não tão bom. Os riscos e desafios, os encantos e os espantos, os frutos e as armadilhas. Nas asas, a liberdade, caminhos escolhidos e assumidos.

Mas eis que na descoberta da floresta, ainda incompleta, vislumbra-se com uma gaiola amarela, mas que no fundo dourada era.

O brilho da gaiola produz no passarinho um belo sorriso que, sem muito pensar, mas apaixonado por aquele lugar, decide entrar e ali habitar.

Encontra nessa casa segurança, alegria, liberdade e limite para sua asa. A floresta aparentemente havia diminuído, mas sua entrega o fez descobrir outra floresta, no interior, no aumento do amor. Eis que está preso, mas sente-se livre. Liberdade que o faz cantar como quem é feliz, como quem diz: “Sou preso a Algo que me faz livre”.

Mas chega também um tempo, dessa vez com muito pensamento, que a gaiola já não brilha tanto. O que era possibilidade torna-se limite e privação de realização.

O que aconteceu? Não, o problema não é a gaiola, ela continua com seu poder de claridade e brilho imutável. O passarinho, num querer comprometido com a felicidade, e então com a liberdade que a verdade proporciona no bater de suas asas, quer voltar à antiga floresta. Deseja mudar porque quer permanecer, deseja estar sabendo e ser sentindo. Quer continuar a descoberta de si e da floresta, sem alarde, sem festa, mas como um milagre do querer viver, continuando sem ruptura seu canto e o seu vôo.

Numa adrenalina emocional provocada pelo retorno à floresta, vive o espanto e o encanto, o medo e o desejo de voar com liberdade sobre essa nova realidade.

O que ele já percebe é a necessidade da humildade. Ele já não é mais o “passarinho da gaiola dourada” que muitos particularizavam e admiravam. Agora é novamente um simples passarinho da imensa floresta, com tantas outras aves e animais. Seu canto e vôo já não têm expectadores, eles se perdem na multidão que o recebe.

Aqui, o sobrenatural é o natural, o cantar, o voar e o viver é coisa normal. Já não se tem a segurança da gaiola, é verdade, é preciso o esforço para se manter, para viver e continuar a sua história.

Vê que por ali muitos já estão bem. Tem bom salário, estudo, casa, que o diga o “João de barro”. E ele? Um iniciante nesse mundo extenso e grande.

Vai voando, tentando aos poucos achar o seu espaço, faz então um itinerário e nele escolhe seguir, se dedicar, como experiência e vivência. Quer ser um passarinho da floresta, mas sem esquecer o que viveu na gaiola dourada, vai continuar sua vida, sendo o que ele é para alcançar o que se quer.

Hudson Roza
Enviado por Hudson Roza em 19/10/2009
Código do texto: T1875259
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