DEVENIR

DEVENIR

Hoje, não quero ser a fantasia

da infância vivida e envolvida

numa teia de mentiras

construídas sem fundamento.

Hoje, não quero ser o palhaço

do circo armado na sala

com a família reunida

num sarau de conto de fadas.

Hoje, não quero ser a superficialidade

das idéias estereotipadas

numa cadeia de ilusões perdidas

das mentes mofadas.

Hoje, quero ser a digestão bem feita

da liberdade conquistada a duras penas

para nutrir a vida e saborear apenas

o agridoce das verdades desfeitas.

Hoje, quero ser o servo sem compromisso

para sonhar e viajar sem aviso

numa seqüência de razões

para distribuir abraços e sorrisos

Hoje, quero ser o encontro no desencontro

para ponderar o imponderável

numa contradição dessa vida fugaz

que arrasta o homem para tudo que é falaz.

Hoje, quero contemplar as estrelas

e reviver no seu brilho o encanto

numa tentativa insana

de esquecer o desencanto.

Hoje, quero ser a alegria inquietante

da borboleta que rodopia de flor em flor

quero ver a melancolia distante

quero ser a seiva que dá brilho e cor.

Hoje, não quero matar o amor

quero fazê-lo florir

Hoje, quero afastar o dissabor

quero ser o devenir.