SUPREMO POEMA DE TODAS AS PALAVRAS DESDITAS

I

Eu

Pano de copular prato sem fundo

Sem querer querendo sobrevivo de angus de palavras desditas

Que tu ó flor vaginal de minha mocidade não meditas

Deste modo além do quê muito aquém dos gozares das feridas

Não consigo endurece-me no bojo do poema

Não perpasso o amor masturbando-me de poesias benditas

Nem sequer escuto o soluçar das mulheres proscritas

Em suas doces alcovas desmerecidas

Eu

Parapeito de casa florida

Que sou ave poética sem palavras

Sem fala que teima em admirar os flocos de neve

Que caem dengosos na cama exótica da relva

Não consigo me ver plantado

À ilharga da tamarineira da praça

Ou mesmo assistir o pôr-do-sol queimar cérebros

Pessoas luares edifícios nova-iorquinos

Invasão alienígena

Vênus de encapar sonhos londrinos

Além disso

Não ouso prever também

Quais gozares das cabeças americanas

Calharão seduzir-me frente à pororoca amazônica

De poetizas esbeltas de olhares fogosos

De pernas abertas penetráveis

Já que palavra paixão é

Enquanto ilusão um caminho

II

A caminhar em passos rápidos

Desejo beber o namorar do boto rosa

O explodir-se dos búfalos penitentes

A formula de se soletrar poemas

Uma trepada prosa

Sim o amor há de sobrar-me no estomago

Porém eu trem fantasma

Força do vento norte animal alegre estrábico

Eu que pudesse em voraz penetração do estrumo

Abolir o ódio de islamitas e de americanos

Para que no aurorar de poesias e galas

Pudesse transformar animais de cera em simples mortais

Húmus de Deus

III

Se Deus é Deus

Não pode ele conhecer o nada

Se ele é maior que o absoluto

Exclui de si tudo

O que tem caráter de nada

O puro doente e o puro insano são

Portanto a mesma

Palavra

IV

A palavra gesta o ser

O poeta nomeia o sagrado

Ele lhe cava o chão e lhe lavra o solo

Põe-no em marcha

A sua alma-do-corpo que vem do próprio aço subsolo

Para, desta maneira, ermo de beira

Retornar ao barro enquanto inteira

O verbo é o homem - que ao modo da existência - é o poema

Cada coisa tem seu tempo

Mais é o homem alguma coisa no tempo?

O tempo não é obra do homem

O homem não é obra do tempo

Ou será por acaso

De melhor conselho não apenas renunciar à resposta

Mas já a própria pergunta?

V

Perguntar é: não concordar com a fome...

Perguntar é: estar em conexão com a pedra...

Perguntar é: encadear-se com o aço do rochedo...

O rochedo é ilusão mas não resiste

A árvore é tesão mas não permite

O anjo é paixão mas não colide

Deus é amor mas não divide:

Somente o homem resiste

A essência do amor-de-gozo consiste em sua existência:

Não permitiu Deus que em loucura se transformasse

A sabedoria do mundo?

O chão da palavra contrasta com palavra degradada

Nunca porém

A luz primeiro cria a palavra

Aquela luz

Pressupõe esta a lavra

VI

A lavra do poeta no entanto

Que é o enxerto o poema

Não está apenas livre

Para a claridade e a sombra

Mas também para a voz que reboa

E para o eco que se perde

Para tudo que soa e ressoa e morre na distancia

A palavra é o aberto para tudo

Que se apresenta e ausenta

O raio de luz não produz

Primeiramente a lavra a abertura

Apenas percorre-a

O homem que não se alimenta deve experimentar

O coração inconcusso do desvelamento?

Se for assim

Então a lavra não será pura palavra da presença

Mas lavra da presença que se gela

Palavra da proteção que se vela

VII

E é pela vela

Que não me entrego à paixão dos fracos

Do passado que se tornam irrevogáveis ilusões

Escrever é crer no homem:

Custe o que custar

É um libertar para a liberdade

Do diálogo com o que foi

E continua sendo – palavra

Pergunto-vos que é isto?...

- o néctar do amor?

Que é isto – o belo?

Que isto – o conhecimento?

Que isto – a natureza?

Que isto – o movimento?

Que é isto...?

A pergunta é carregada de poeticidade

É primordial quer dizer

Carrega em si uma tatuagem

Nosso destino

VIII

Sabe Deus

Que o destino do tutano torna-se mais vivo

Quando a flor da ingenuidade

Por cuja palavra se questiona

Obscurece-se e murcha

Quando ao mesmo tempo

O sexo do inseto para com o que é

Testado se mostram vacilante e desejado

Um poeta (é) tudo

Tudo dizer num poema

O que é uma palavra a única

A que tudo une e move

Unida é entretanto

Toda a lavra do poema

Que nos copulou sem gala

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 12/07/2006
Reeditado em 05/09/2006
Código do texto: T192737