TORNIQUETE DA PALAVRA
A Harley Dolzane, Nathali, Thereza Girardi, Adriana Costa, Fabrício Carpinejar, Barbara Lia e André Gabriel. Dedico
Ah!... Esses pobres alienígenas
De letras tortuosas
De membros fogosos e de sonhos febris...
Nasceram filhos do vento trans-tempo...
Homens sem carne senão ossos remorsos
E na poesia sobrevivem como morto-vivos fonemas
Rastejam como serpentes desvirginadas
Jazendo-as lascivas debaixo dos vocabulários da palavra
Ah!... Esses expiadores de veneta
De bocas estreitas mãos broxantes e de olhos pernetas...
Nasceram sobras de locuções adverbiais multi-temporais...
E são-nos mãos-de-obra verbais de fina engenharia...
Poço de mágoa sem lavra... talvez!
Basta-nos pensar:
Quem em franca consciência duvidaria do trânsito da fala?
Quem em branca maledicência encheria os rios de lágrimas e galas?
Quem de muitos - transformar-se-ia - em odores e barros
Cacos de escarros que se pregariam à boca do poema
- Inchado cadáver -
Feito boiada de anta em véspera de fecunda penetração?
Por certo
Ouço o vento chorar feitos desumanos
- e cuspo-me extasiado em terras de degenerado pão
Por certo
Ouço-me urrando fomes desumanas
- e escarro-me sob homens poetas tibetanos
- descansando em sarjetas e solidão
Por certo sobrevivo
Como pássaros copulados
Que morrem de angina e tabaco em camas drogadas
De impaludismo e inanição
Sonhos hão de existir
Danças hão de ser metais pesados:
Porque metais e sonhos sempre existirão aos milheiros deles
No fogo da vida se se esfregando sob a chuva belenense
(e disso não abro mão de desconfiar!)
Sonhos e danças são como deuses em cima dos bibelôs da sala
Porque ambos morrem sobras de almas
De garimpeiros mercurizados
Sonhos são fezes de infiéis drogados
Sem travas de coitos desencapados
Porque ambas morrem inteiriças bostas de anjos
Sob noite de fim de papado
Basta imaginar:
Quem em ávida agonia provaria do vomito da fala?
Quem em tácita sinergia beberia os rios de merdas e galas?
Quem de poucos - banhar-se-ia - em dores e esbarros
Cascos de murros que se desceriam ao logro do poeta alado
- soberbo mártir -
Queixume de búfalo
Em ato de copulada expiação?
De duas uma:
Ou hei de ruminar-me a tempo de lamentar fomes desumanas...
Ou hei de penitenciar-me ao lombo do contrariado poraquê...
Porquanto sobram palavras tétricas em meus poemas
Como veias elétricas de fumaças que passam
A bordo de orações salinadas
E morrem angina e tabaco como carnes drogadas
De pedinte dízimo e de cagada traição...
Tomara que reste o sol
Tomara que não haja ressentimentos poéticos
Entre eu - o criador - e a criatura
Conquanto resta-me carregar atado à cintura
(Já que somente o poema atura-me copulado!)
A fomedez do torniquete da palavra...