DIAMANTE AQUARTELADO

Eu - grão sem fava

Que antes de viver

Nascesse pó de diamante aquartelado

Que pudesse misturar-me ao doce de manga

Com massa temperada

De caranguejo desvirginado

Que pudesse caldear-me à fala

De garapa com pão doce

Amanteigado

Eu - chão batido

Que antes de viver

Pudesse esvair-me a tempo

De considerar-me homem desmedido

Que antes do sol morrer

Pudesse desviar-me do jorro da gala

E tivesse que me considerar

Pedra polida

– belo brilhante...

Eu - verbo ferido

Que antes de viver

Fosse folha de jambú

A empedrar-me sob goma de tacacá

Que ingerisse chá de capim santo

Com mistura de alho mastigado:

- de que valeria beijar

O sexo das aranhas caranguejeiras?

Eu - pão sem trigo

Que antes de morrer

Nascesse lasca de pedra afiada

Fosse temporal de garimpo

Catapora de queijo

Que bebesse vinho de tarubá

Com caribé de farinha

Amarelada...

Eu - vinho cubano

que antes de morrer

Pudesse me tornar perfeito teorema

Pudesse me atar à poesia paraense

Tivesse que ser porta entreaberta

– sangue maçante!

Que grudasse esparadrapo

Em poeta belenense

Que tivesse de suplicar em pranto:

Oh! Náufragos de vida

"Leiam os meus poemas!"

Pois de que valeria contemplar

O sorriso da prostituta estrangeira

Se sou farinha de fim de feira?

Eu - baralho cigano

Que antes de viver!

Que antes de morrer!

Tivesse que beijar o beiço

De florida roseira

Fosse videira amazônica

De inexorável fingimento

Fosse escravo de beira de leira

Fosse apenas o delator

Para dizer então:

Eu - panis et circense!

– sou eu -

E a lua é ela !

– rainha de mim...

Eu - o ator!

Pudesse dizer então

Que ela é ela

E eu - sou eu...

Pudesse apenas ser

Rei morto

Voraz pateta

– senão eu:

Fosse apenas seu curandeiro

Enchida retreta

– senão eu:

Que galasse do nada

Febril poema

E sob o coito da palavra

Além-vida-lhe-fosse chama

Tornada violeta:

- de que me valeria

Aliar-me às bestiais broxuras

Dos macacos?

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 13/07/2006
Reeditado em 06/09/2006
Código do texto: T193212