AO DESCONHECIDO
Ó desconhecida pessoa
Que podes de minha vã hipocrisia entender?
Que podes de minhas lavra de palavra comentar
Se não te dei a chave de minha cínica expiação
E nem te abri o segredo que desata
A minha parca gozação?
Que podes
De minha alva covardia entender
Quando embriagado de vento vos digo:
Não sou poeta!
Também não sei
Conceber-me de palavras desditas
E nem desintupir-me de anginas e poesias
Ó desconhecida pessoa
Houve tempo - tempo ido
Que me envolvi em fulgurantes letras
Que tilintei espumosas frases
Que engravidei robustas crases
Que até pensei confesso - em ser poeta
- animal de venta pateta
Pensei!
Esnobei!
Dispensei!
Mas agora desejoso de sê-lo
Cabe perguntar-te:
Ó desconhecida pessoa
De que vale a beleza dos ratos
Se as minhas poesias não combinam
Com a fomedez da velhice
Que reina entre sexos e livros?
De que vale a crueza da vida
Se penares em dúvidas que se abrolham
De minha pobre poesia não congeminada
À solidão dos bípedes noturnos?
Qual o tamanho da dor
Em ser (ou não ser)
Poeta pateta?
Catei!
Vasculhei!
Escrevi!
Enfim descobri-me sonhador de palavras:
Feitor e não gozador de raros-efeitos
Que nem sei - se sei
- Se são tão meus
Assim!