AO DESCONHECIDO

Ó desconhecida pessoa

Que podes de minha vã hipocrisia entender?

Que podes de minhas lavra de palavra comentar

Se não te dei a chave de minha cínica expiação

E nem te abri o segredo que desata

A minha parca gozação?

Que podes

De minha alva covardia entender

Quando embriagado de vento vos digo:

Não sou poeta!

Também não sei

Conceber-me de palavras desditas

E nem desintupir-me de anginas e poesias

Ó desconhecida pessoa

Houve tempo - tempo ido

Que me envolvi em fulgurantes letras

Que tilintei espumosas frases

Que engravidei robustas crases

Que até pensei confesso - em ser poeta

- animal de venta pateta

Pensei!

Esnobei!

Dispensei!

Mas agora desejoso de sê-lo

Cabe perguntar-te:

Ó desconhecida pessoa

De que vale a beleza dos ratos

Se as minhas poesias não combinam

Com a fomedez da velhice

Que reina entre sexos e livros?

De que vale a crueza da vida

Se penares em dúvidas que se abrolham

De minha pobre poesia não congeminada

À solidão dos bípedes noturnos?

Qual o tamanho da dor

Em ser (ou não ser)

Poeta pateta?

Catei!

Vasculhei!

Escrevi!

Enfim descobri-me sonhador de palavras:

Feitor e não gozador de raros-efeitos

Que nem sei - se sei

- Se são tão meus

Assim!

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 14/07/2006
Reeditado em 05/09/2006
Código do texto: T193715