O HOMEM
Homem...
Ó pobre homem!
Que tens que não pode tua boca reclamar?
Será castigo dos deuses
– ou angular fome
De perdurar solidão?
Que tens de tão sofrido
Que não pode teu beijo carpir?
Será sangramento de fome
– ou tsunamicas ondas
De importunar escuridão?
Homem...
Ó pobre homem!
Que tens que não pode teu corpo fugir?
Será achatamento do peito
– ou espetacular ciúme
De ferrar coração?
Que tens de tão incompreensível,
Que não pode teu Deus clamar?
Será vertigem dos náufragos
– ou milenar coceira
De perpetrar repressão?
Homem...
ó pobre homem!
Em que jardim julga florir-te
Sabendo que a cópula da palavra
Gesta o repto –
E vai de canivete espetar-te à sorte
Cujo mistério da morte
Incidi sobre as unhas do estilete?
Ó pobre homem...
Que tens de tão infecundo?
Em que carne
Podes-te galar para fazer calar-se
Todas as injustiças da terra?
De vento em popa
Carregarás vidas para além
Do infinito?
A dor? - decerto a dor!
Ser-vos-ia de compreensão a todos os poemas
Que debalde restassem mofados
Em nossas lágrimas caídas:
- mas quantas?