GRELO DA PALAVRA

Não fosse o capturar das flores

Que se embalam sob este casto poema

Detestaria cingir o ar de branco pérola

No entanto cinjo-lhe verde esperança

- e desgalho-lhe raivoso

Qual maça traída que se presta

A se gozar sob o grelo da palavra

Que à revelia do papel retorcido da maçã

Bem que esse grelo poderia comer carne de javali

Porque me sendo sôfrega canção prostituta

A dita não me revelaria o paradeiro de minha fala

Espumantes sobras de rios e galas

De cálidos elixires humanos

Que em crasso manjar me prenderia

Sobretudo às esquizofrênicas pestanas

Ó palavra!

Vejo-te mulher crescida

E ainda assim nem me és poema

Mas ao fim da ceia

Provo de teu mel

Este pusilânime mel que ato contínuo

Purifica o charco de minha lavra

Porque coabita dentro de mim

E sob efeito de haxixe

Não se cabe dentro de si...

E é por não fugir da lavra da palavra

Que sou predestinado a ser rubra ferida

Escaldante cascata de voz

Posto que em transe não escrever o que sinto

Receberei castigo explícito

Poderei ser igualado a um beija-flor de vidro e corte

Um tanto desbordado de dores

Mas que posso esperar

Deste rarefeito beijo que as tascas no poema

E que me sufoca o cerne?

Só sei que lhe cinjo o ar de sombra e árvore

Mas não lhe o enxoto de mim

Pois mesmo tendo que aguardar pacientemente

O refluir do vômito deste ar

Deságuo minha sede neste poema

Já que sou conjunção ativa buscando vidas

Podendo quem sabe até

Fazer este poema remover ferrugens

Contorcer miragens

Entrelaçar-se aos meus dedos

Cansados de poetar

O que nem sei se sei

Que me parte em vida

Ou o que não sei se sei

Que me cabe desflorar

Já me desflorando

Em parte

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 21/07/2006
Reeditado em 05/09/2006
Código do texto: T198816