COM VERGONHA DE DIZER...
Eu
Sou a sombra
E sou também especiosa raiz
Sou a santa
E também insaciável meretriz
Sou a cobra
E também soberba imperatriz
Sou poeta
E também sujo chafariz
Sei que minha alma é pálida
Que meu poema não é pálido
Mas mudo de feição
Sobretudo quando me afasto
Temporariamente
De mim
Sou
A sombra
E queimei-me especiosa raiz
Sou a santa
E tornei-me insaciável meretriz
Sou a cobra
E piquei-me na soberba imperatriz
Sou poeta
E tornei-me sujo chafariz
Antes minha alma era pálida
E não era cálido o meu poema de antes
Minha feição mudou
No entanto
De mim
Não me afastei
Temporariamente
Nenhum segundo
O amor
Pespegou-me o amor
E nele jaz-me o poema cuspido
Da fina flor de açaí marajoara
Com seus enormes mênstruos
Expostos entre as pernas de meu apoucado ser
E que não cabem dentro de si
Tal a fomedez de seus lábios carnudos
Mas peço-te
Ó flor marajoara
Sobretudo que não me escondas
Por debaixo de tuas folhas secas
Nem me lambuzes com azeite
De origem portuguesa
Já que não respiro gás assexuado
E nem respiro suor pirateado
De insossa carne holandesa