COM VERGONHA DE DIZER...

Eu

Sou a sombra

E sou também especiosa raiz

Sou a santa

E também insaciável meretriz

Sou a cobra

E também soberba imperatriz

Sou poeta

E também sujo chafariz

Sei que minha alma é pálida

Que meu poema não é pálido

Mas mudo de feição

Sobretudo quando me afasto

Temporariamente

De mim

Sou

A sombra

E queimei-me especiosa raiz

Sou a santa

E tornei-me insaciável meretriz

Sou a cobra

E piquei-me na soberba imperatriz

Sou poeta

E tornei-me sujo chafariz

Antes minha alma era pálida

E não era cálido o meu poema de antes

Minha feição mudou

No entanto

De mim

Não me afastei

Temporariamente

Nenhum segundo

O amor

Pespegou-me o amor

E nele jaz-me o poema cuspido

Da fina flor de açaí marajoara

Com seus enormes mênstruos

Expostos entre as pernas de meu apoucado ser

E que não cabem dentro de si

Tal a fomedez de seus lábios carnudos

Mas peço-te

Ó flor marajoara

Sobretudo que não me escondas

Por debaixo de tuas folhas secas

Nem me lambuzes com azeite

De origem portuguesa

Já que não respiro gás assexuado

E nem respiro suor pirateado

De insossa carne holandesa

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 26/07/2006
Código do texto: T202652