Um pouco da minha verdade

Tem dias que choro todas as noites

pra lavar a rotina e a alma fria com lágrimas quentes,

pra saudar os ventos mesmos que incessantemente sopram

sem trazer o que mais se espera desse tempo de sol,

que ao nascer fico mais no poente,

carente no fim do dia

embalado, apenas, por Smokin' ou Cookin'...

Sinto-me perdido nesse fim dos tempos

o que me resta - Jazz e sofrimento -

tira de mim o pouco que há de Nada:

Resta-me o Caos.

Nessas noites que lágrimas correm -

e sabe-se lá pra onde vão! -

Sou um pouco do Caos do Absurdo

Um pouco de Mundo.

Cru e sem sal,

sou um pouco de Nada.

Mas, mal sabem eles o que esperar da vida,

sem rotina, sem Nada e sem Caos,

Juntam-se à pequena massa disforme da pequena burguesia.

Nunca sofrem da azia,

causada pelo café noite à fora,

Nem do frio que faz na periferia...

O que esperar de mim?

Um pouco menos que vida,

mais que rotina dissonante,

sempre mesmo instante,

livro na estante,

verso na vala,

na cova fria da página amarelada,

suja em sangue e esboço de poesia,

de letra morta e vida vazia,

de Nada e Caos,

de Caos em tudo.

Nesse fim de noite,

seja hoje ou no restante dos dias,

sofrimento cheio de voz vazia,

silêncio extremo pra não acordar quem já se levou pela rotina,

pra conservar o que restou de vida.

Nesses dias,

noturnos e sombrios,

os mesmos há anos,

só agora que se percebe

que café dá azia e madrugada esvazia...

Num instante de soluço,

ouço o trompete dizer que não há outro modo,

que a vida sempre se esvai antes do sono,

que madrugada só completa esse mau feito em esboço...