NO LIMITE

I

Divina luz

Ó flâmula que estremece o vento brincalhão

Em teu seio ameno

Cravos e orquídeas acasalam-se gozosamente

Deixando cair sob a saliência do tempo

Pingos de fina sobrevivência...

Mas não há nisso nada de admirável

Porquanto a terra

Em lugares incertos e por decidida licença dos céus

A maldade priva-nos da luz do sol de hoje

E pelos caminhos que seguimos esperançosos

Ela se enche de zelo

E nos encoraja a beber arsênio

No limite de suportarmos insidiosa fome...

Todavia

De nenhum modo

Concedemos que se enganem os olhos

II

Ó divina chama

De fato

É deles o papel de apontar

Onde está o arco e a flecha

Mas se a flecha e o arco

São as mesmas coisas que antes havia numa alça de mira

E que passaram para outra pontaria

Ou se antes

Tudo sucede como já disse Judas Iscariotes

Isto é o que deve distinguir o juízo da essência

Visto que os olhos da angustia

Não podem conhecer a genialidade dos arqueiros:

Não se deve

Impor aos olhos o erro da ilusão

Pois o barco em que somos conduzidos

Move-se rapidamente e parece estar parado:

E aquele que fica no ancoradouro

Julgamos nós que avança contra

A mira do coração

III

Majestosa lucidez

Quando avisto o caminhar errante dos homens

Com um brando torpor e a mente jazendo

Numa suprema inquietação

Então me parece

Que as colinas e os campos carecem fugir pela popa

Quando passamos perto de navio

Levados pelo vôo das velas

As estrelas parecem estar todas fixas

Nas abobadas do ar

E todas elas são levadas em contínuo movimento

Todas elas tornam a ver

Depois de nascerem o poente longíguo

Quando já mediram com seu corpo brilhante

O céu inteiro

IV

Ó grito que beira o espanto

Ó divina Luz que aviva o meu poema

Se há na palavra alguém

Que julgue nada saber do amor de perdição

Isto mesmo ele ignora se pode saber do desamor

Visto que diz nada saber

De onde

O vento se enche de zelo

E nos encoraja a beber mercúrio

Na fronteira de tolerarmos

Ardilosa insensatez

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 02/08/2006
Reeditado em 03/08/2006
Código do texto: T207737