FLUTUANDO NA AREIA
 
Por que o chamam Mangue Seco?
Que estúpida ironia,
se me molha de inspiração,
faz-me rolar duna a baixo
e me envolve em poesia?
 
De uma poética alv’areia,
faz-me flutuar, me tonteia,
torna-me frágil, mas poeta
– o mais fraco ser humano,
o mais sensível também,
imerso em tanta beleza.
 
Distante da agitação mundana,
pudera viver um amor proibido
e por um minuto, sequer,
jamais ser interrompido.
Sentir a carícia da brisa
a assanhar nossos cabelos,
beijar nossos corpos, sorvê-los,
e entregar-me ao amplexo do amor.
 
Mangue Seco, você sempre
me inspira os prazeres da vida
e numa paixão proibida
acabo por mergulhar-me.
A Natureza me norteia,
possuído pelo esplendor e
Flutuando na Areia...
Maio/1988
 
NOVAIS NETO. Flutuando na Areia. Salvador: NN, 1988, p. 81. 112p.