POETA TORTO, 1 e 2
1.
Sou um poeta torto
que se inebria
com idéias retas
Equilibro-me no vento
e observo atento
as feridas do mundo
Sofro e rompo
o espaço restrito
que me designaram viver
Danço feito louco
pra manter-me ereto
Vivo num tempo avesso
De desalentos e desatentos
Tramo entrelinhas
Fio entre palavras
Lavro a terra com sede
e semeio poesia
Incendeio-me vivo
com fogo do coração
e aceno à margem
pra chamar a atenção
Eu sou mesmo um poeta torto
Meio bobo
Meio criança
E até feliz
2.
Volto a me armar de versos
Palavras-bala
Palavrariete
Bato com poesia
na porta dos insensatos
no couro duro dos insensíveis
Sou pele e alma
ossos e aura
Bato com vida
na grade
na trava
estouro o cativeiro
e solto rimas pelas ruas e praças
Dedicado ao poeta Roberto Pires, de Célio Pires, cp-araujo@uol.com.br