EXPLICAÇÕES AO MUNDO

CITAÇÃO:

“Não quero saber quem sou, morro de medo/ nem quero saber pra onde vou, é muito cedo (...)/ Não guardo segredo mas sou bem secreto/ é que eu mesmo não acho a chave de mim” (da música Sangue e pudins, de Abel Silva, por Fagner)

......

Às vezes durmo como pedra

noutras me aquieto

tenho medo de ter medo

num mundo de fortes corporações

mesmo sem norte e sem amores

as dores do mundo me sufocam

assim como as rimas fácies me vêem sempre

sem start e sem arte

sonorizam o pensamento.

Não sei o que me contamina

a vitamina matinal

as bactérias letais

ou o H1N1

agora ou no próximo instante

a que horas isso se dará?

será no contato

no tato

ou um vírus virtual será implantando na minha mente, antes

e boom!

não é neurose

não sofro deste mal

não tomo passe habitualmente

nem vou ao analista

assunto não me falta: converso com as palavras

e teclo com a mente.

O que dorme e acorda em mim

todo dia

sou mesmo o mesmo ou já serei outro

diferente de ontem

qual o lado desconheço

se durmo ou se amanheço

se rego a planta no jardim

ou meu pobre coração que implode em silêncio no peito?

Devo explicações ao mundo

ou permaneço quieto

e acoberto tudo o que condeno?

Tenho medo de ter medo

num mundo de fortes corporações

pois não sei a quem atacar primeiro

o forte apache

a usina nuclear

ou me aquietar no aceite.

Não tem jeito

tudo vai para o abismo de qualquer jeito:

a floresta

o jardim

e nem o éden será poupado, enfim

o que ganharemos com a guerra

quanto custa a paz

as pedra vão rolar ou criar musgos?

Há um ritmo um pulsar no mundo

em defesa do planeta

enquanto tocam fogo no canavial

eu e Ferlinghetti cantaremos odes a quem

se houver só desertos

é certo

não dará tempo de apagar o incêndio

até que alguém me ouça

nesta tribuna solidária

nessa torre de marfim onde me escondo

nos escombros da poesia.