Fragmentos 42 [Vida Voa]

Amo cada instante como se fosse o derradeiro,

amo cabeça em travesseiro

enquanto pensamento vai livre,

voa,

contempla a majestosa tempestade do universo,

faz verbo ser verso,

torna poesia música...

Amo cada dó ré mi fá reverberando

ouço atento cada lá,

cada instante

com dó

cada sol que me fez sonhar,

cada minuto que a vida dá,

mesmo que atravessado...

Amo cada ser humilde que senta ao meu lado,

que sente ao meu lado...

Amo cada palavra de afeto:

amo a vida em todos os seus dialetos.

Amo meus amigos e cada experiência que passo com eles,

cada coisa ínfima,

cada indicação de disco,

cada som discutido,

prometido,

cada livro lido -

todos que ainda leremos juntos -

amo cada momento insignificante que afeta minha 'bildung'...

Amo minhas histórias e minhas tristezas,

amo cada novo momento velho em que reitero vastas experiências,

junto dela,

dizendo dela,

pra ela,

amo cada singelo passo em direção ao novo,

amo ter medo de deixar o velho,

não troco a compainha dela...

Ouço o estalar da madeira quando a noite gela,

lembro de cada passo firme,

de cada momento decisivo,

de cada lágrima fria,

de cada sorriso morto,

de cada erguida de cabeça e

amo cada começar de novo.

Amo todos os momentos que passo,

amo até aqueles que somente passam,

sem deixar rastros.

Amo todos aqueles que algum dia deixaram lastros,

que fizeram rastros em meu peito,

na memória...

Amo cada instante de vida,

cada momento vivido,

com prazer,

com aflito,

coagido ou liberado,

amo cada momento inesperado...

Amo, simplesmente.