Fragmento 43 [Nunca se sabe - falta de sentido: vida...]

Quanto de mim se foi?

Quanto ficou,

de tudo que dei aos outros?

Gratuitamente,

sem medo,

às vezes sem volta.

Dei ao mundo as minhas formas tortas,

as minhas forças escassas,

dei-me à solidão...

À podridão desse mundo caos,

corroído por vil metal -

como Midas.

Dou-me ao silêncio,

trancafio-me dentro de mim,

interiorizo e...

Por vezes tento exteriorizar em paixão:

ora vão, ora nem.

Sinto-me perdido em mistérios,

na falta de sentido,

no sentido caótico de meu próprio mundo-subsolo.

Asseio-me repelido pelo ódio,

pelo rancor e pela falta de sorriso desse mundo-torto.

Sinto a inveja tentando me corroer...

Tolos!

Esquecem-se de meu corpo-fechado,

de meu poder abstrato,

de meu sorriso encantado,

que atrai somente agrado,

repele sagrado,

prefere profano,

passa um pano,

faz sorrir,

deixa feliz,

versa enfim,

vida.

Faz fugir,

deixa ir,

manda em mim

o riso.

Talvez sem sentido,

no momento nem.

O vivo,

dentro de mim,

torna-se verso,

faz o inverso

daquilo que ninguém percebe certo,

descarta resto,

faz manifesto,

torna o tudo objeto,

de prazer.

Faz viver,

vive.

Mesmo que sofra,

vive.

Vive...

O mundo podre,

cidade-enxofre,

fantoches torpes,

miséria enorme...

Contra o fluxo desse mal,

o sorriso é letal,

paixão é fatal,

o amor é mortal.

Tudo é vida.

Desde que não se tente contra mim.

Enfim, liberto das correntes,

mais se vale,

enquanto o que mais vale,

como ela diz,

é viver solitário na luz

do que na escuridão por um triz.