Renúncia

I

Maior é a dor daquele que não pode evitar a queda

ao ver o coração desabando,

os versos que não podem falar,

rascunhados em um papel guardados ficam,

caem lágrimas anônimas,

derramam notas tristes,

cantam angustiadas melodias,

levemente acompanhadas pela flauta que embora doce deprime,

feito páginas rasgadas de um bom livro.

II

Meu sonho encantado,

alma que viaja na velocidade da luz,

revela a beleza do diamante escondida no íntimo,

universo fascinante são teus olhos,

eu tento desvenda-los, inutilmente em minha limitada compreensão vacilo,contento-me em admirá-los apenas, admiro e sorrio como se houvesse descoberto o maior dos segredos...

Liberta a esperança, antes cativa, voa até sumir no horizonte,

aos poucos os versos tomam a forma de um entardecer como daqueles dias de outono, é lá que se esconde musa desejada.

III

Magia intensa que faz a métrica tomar forma perfeita,

a aurora enrubescida se esconde da tua face,

riachos de sublime fascinação produzem o balanço de seus cabelos,

cálice de alegria transbordante e sublime,

enigma que rompe e ilumina minhas noites: meu sonho

lirismo poético que não cabe em meu peito,

alegra, entristece, encanta, desaquece, aquieta...

Tantas formas dentro de uma só.

IV

Minha não fosse a renúncia, a espera forçada,

a necessidade extrema de preparar meu coração para a colheita,

repeliria o silêncio, expulsaria o medo, transformaria minhas palavras,

correria para alcançar teus passos, diria aos teus olhos:

eu tenho um mundo para te mostrar,

levará um segundo e um infinito para acontecer

sinto tanto amor, mas sinto mais ainda não conseguir confessar.

V

Meu peito arde, não suporta o tempo da espera,

as horas diluem a esperança como se em nada coubessem,

rabisco no céu algumas nuvens negras, queria chovesse ao anoitecer,

as chuva resvalando na janela e o vento a jogando mais forte as vezes....

E eu, que pouco tenho dormido lentamente fecharia os olhos,

quem sabe ao acordar não a veria de novo, retomada a esperança, talvez...

VI

As horas passam, aflitas olham, não reagem, param, observam,

ririam de mim; tolo, não se apressa para ver, o tempo não volta,

a cada segundo se esvai a probabilidade e pensará: e a renúncia de que valeu? Não conquistou bem maior, não fez nada, apenas envelheceu...

Madrugada cinzenta: lápis, papel, coração;

assinando uma carta tremida, amassando e jogando fora. Abrindo e lendo-a novamente...

VII

Hoje eu a vi passando da janela do meu quarto, pude tocá-la por um instante e,

assim tão perto e distante, vagamente me olhou,

religiosamente adornada por sua beleza natural, frágil, intelectual.

Senti que em determinado momento corou-se, talvez por minha tamanha indiscrição, eu a olhava, sem parar a olhava,

até que desapareceu do meu campo de visão, despareceu e não voltou...

Francis Poeta
Enviado por Francis Poeta em 14/07/2010
Reeditado em 08/06/2014
Código do texto: T2377713
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.