Fragmentos 44 [Caos da Náusea]

Sinto tristeza nesse cortejo fúnebre,

sinto nojo por entre esse esgoto

que se corrói por dentro,

movimenta-se a si mesmo,

a esmo,

sem freio.

Sinto ânsia, enjôo,

sinto frio, sofrimento,

sinto ônibus cheio,

sentido vazio,

falta de dentes no sorriso,

improvisos cada vez mais eficazes na finalidade

esmagam pombos,

trituram gente morta,

apresentam morte em cada esquina

pra quem pensa em resquício de vivo.

Bem verdade,

torna macabro qualquer manifesto de vida,

qualquer tomada de frouxa autonomia,

qualquer resto de parca reflexão.

Sinto nojo dessa existência vã,

cheia de sentido,

de rumos outros,

de falsos risos.

Tristeza salta em calafrios,

pelos orifícios ocos,

pelas frestas de crítica,

na Selva paleolítica,

quase paralítica,

cheira parasita moribundo,

cheira defunto,

torna-se Grande Mausoléu.

Sinto, ainda, desgosto pelo que se define vida,

corro pela rua sem saída,

lembro da infância,

vou pra instância escondida,

reelaboro em lembranças,

fujo daqui.