NOITE NEVOENTA
De dentro da noite lenta,
Ensimesmada, presa a uma camisa de força,
Impossibilitada de liberar um grito
Estorvado no labirinto de uma trégua,
Emerge uma cruz iluminada,
Resplandece tênue, no topo de um morro.
Parece que em torno só esta cruz existe.
O mais, tudo é um mistério torto,
Espesso, disperso e envolto
No silêncio tedioso dessas trevas.
E ando a lentos passos
Para o antro desta noite.
Sou uma pluma descendo dos píncaros dos céus
(encerrados no embaraço da neblina)
Pairando na densidade desses ares sem luares
Até tocar o chão onde os lábios
Beijam pedras quebradas,
Onde crianças desenham cactos.
Leve pluma soterrada e esquecida
Dentro dessa noite entorpecida...