NOITE NEVOENTA

De dentro da noite lenta,

Ensimesmada, presa a uma camisa de força,

Impossibilitada de liberar um grito

Estorvado no labirinto de uma trégua,

Emerge uma cruz iluminada,

Resplandece tênue, no topo de um morro.

Parece que em torno só esta cruz existe.

O mais, tudo é um mistério torto,

Espesso, disperso e envolto

No silêncio tedioso dessas trevas.

E ando a lentos passos

Para o antro desta noite.

Sou uma pluma descendo dos píncaros dos céus

(encerrados no embaraço da neblina)

Pairando na densidade desses ares sem luares

Até tocar o chão onde os lábios

Beijam pedras quebradas,

Onde crianças desenham cactos.

Leve pluma soterrada e esquecida

Dentro dessa noite entorpecida...

Gil Guimarães
Enviado por Gil Guimarães em 26/08/2010
Reeditado em 26/08/2010
Código do texto: T2460119