NOITE NEVOENTA IV
IV.
No quintal roupas balançam no varal...
Sob um céu de frio e sombras.
A umidade desses dias
Não permite que nada seque ou morra.
Uma jibóia após engolir um bezerro
Escolheu a sombra desta árvore para dormir.
Espalhou-se em volta um cheiro de mofo:
Rabugem de cachorro,
Livro antigo que ficou velho
Por não ser lido
– Trágico destino de livro:
Ser alimento de traças.
Quem limpará a poeira
Dessas taças nunca usadas,
Cuja vida foi guardada
No interior secreto das vidraças
À espera do brinde que naufragou
Numa ilha armada do destino?