NOITE NEVOENTA IV

IV.

No quintal roupas balançam no varal...

Sob um céu de frio e sombras.

A umidade desses dias

Não permite que nada seque ou morra.

Uma jibóia após engolir um bezerro

Escolheu a sombra desta árvore para dormir.

Espalhou-se em volta um cheiro de mofo:

Rabugem de cachorro,

Livro antigo que ficou velho

Por não ser lido

– Trágico destino de livro:

Ser alimento de traças.

Quem limpará a poeira

Dessas taças nunca usadas,

Cuja vida foi guardada

No interior secreto das vidraças

À espera do brinde que naufragou

Numa ilha armada do destino?

Gil Guimarães
Enviado por Gil Guimarães em 30/08/2010
Código do texto: T2467807