TRIVIAIS DE INVERNO
“A fulva neblina que roça na vidraça suas espáduas”
(T.S. Eliot)
A manhã vai cerrada pela neblina
Nos lábios fechados de uma donzela branca.
E que tristeza...
Mas eu sei que o sol virá
A galope, no cavalo de Dom Juan.
Virá pomposo e discreto
Sobre o dorso deste alado quadrúpede
E penetrará, sutil, as entranhas
Da cinzenta infância deste dia.
Começará pelas fendas pequenas
Que intercalam os picos das altas montanhas,
Descerá os penhascos traiçoeiros
Enganando-os com um sussurro ligeiro,
Pisará a agudeza dos cristais sem despertá-los
E do urso feroz acalmará o urro
Na frieza de um beijo atroz!
Envergar-se-á na curvatura maleável
Dos altos pinheiros
E atingirá o estrume imundo
De um chiqueiro.
Depois, com a violência de um esfomeado,
Fecundará o profundo destes vales
Até deixá-los estafados
Do extasiante gozo da vida.