FILHOS DO MEDO
Dedos cumpridos e secos
Nascidos da calda do medo
Velozes percorrem as fozes
De ruas e notas
Sobre calçada ignota
Em branco e preto
De um branco piano
Dedos nervosos fogosos
Tremulam e pulam
Nas teclas e flechas
Do antigo Cupido
E desses vinhos e idos
Dos dedos ilesos
Nascem os filhos do medo:
São sons espremidos
Gemidos feridos perdidos
Nos ares crepusculares
Dos mares dos mais
E vagam na vaga das ondas e vagas
Nas costas aladas de alguns animais
E o vento momento mais lento do tempo
É um filho sem pais
Sempre à procura dos seus ancestrais
E encontra na ponta
Dos sons repletos de ais
Declara na cara o assalto:
Sou vento arauto do tempo
Sons desertados vim lhes buscar
Vou-lhes levar
E cegar e prender e calar
O cativeiro será
Um recanto isolado
Quarto abandonado
Da alma em ruínas.