FILHOS DO MEDO

Dedos cumpridos e secos

Nascidos da calda do medo

Velozes percorrem as fozes

De ruas e notas

Sobre calçada ignota

Em branco e preto

De um branco piano

Dedos nervosos fogosos

Tremulam e pulam

Nas teclas e flechas

Do antigo Cupido

E desses vinhos e idos

Dos dedos ilesos

Nascem os filhos do medo:

São sons espremidos

Gemidos feridos perdidos

Nos ares crepusculares

Dos mares dos mais

E vagam na vaga das ondas e vagas

Nas costas aladas de alguns animais

E o vento momento mais lento do tempo

É um filho sem pais

Sempre à procura dos seus ancestrais

E encontra na ponta

Dos sons repletos de ais

Declara na cara o assalto:

Sou vento arauto do tempo

Sons desertados vim lhes buscar

Vou-lhes levar

E cegar e prender e calar

O cativeiro será

Um recanto isolado

Quarto abandonado

Da alma em ruínas.

Gil Guimarães
Enviado por Gil Guimarães em 06/09/2010
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