Somos mutáveis
06-09-2010
Somos mutáveis
Somos mutáveis...
Não nascemos prontos, como os objetos, estamos todos a caminho, vamos nos fazendo através da mudança e de seus processos.
Fatores que contribuem para a mudança: A história, as andanças, as contingências, as experiências, as palavras, a necessidade, as lágrimas, a coragem e, enfim, a Providência. Por que mudar? Para poder permanecer e ser. Isso nos ensina a natureza.
A árvore, quando passa pelo processo da poda, frutifica. É mesmo assim, quem se permite podar, transforma-se. Não é simplesmente uma árvore, mas é uma árvore com frutos.
A obra de arte. Muitas vezes já existe e vai sendo descoberta à medida que é esculpida e moldada. Marteladas necessárias para chegar à perfeição da obra desejada.
O diamante, pequena e preciosa pedra escondida em pedra bruta, encontrada às vezes num rio caudaloso. Quando encontrado, ainda não está pronto, precisa ser lapidado.
É preciso tirar os excessos, visíveis ou não, da superfície marginal. Excluir o supérfluo para fitar-se na imagem essencial.
É bonito o processo, encantador a novidade, inspirador a luta, empolgante a beleza dos que se transformam. Não é que se cria, apenas se descobre através da mudança. Eis sua beleza: contar com o protagonismo humano, recheado de criatividade perante aquilo que não muda.
O que não muda? Que somos mutáveis. Falsas seguranças, medo, paradigmas, critérios capciosos que obstaculizam a mudança.
Não se contentar com o que se pode ver na margem, há algo além. O verniz não pode iludir, não pode definir e esconder.
Buscar a simplicidade, raiz da perfeição. Ser quem se é na responsabilidade e reconhecimento de quem se quer ser. Simplicidade, no dizer do poeta maior: "Escolher uma coisa só"(CDA) e assim seguir.
Seguir com afinco no que se acredita. Caminho querido onde há conquistas. Sendo “a liberdade a casa da felicidade”(F.Pessoa), a alma segue livre acreditando e acredita seguindo; sonhando, idealizando, mas com os pés na realidade, no afã da busca, dos objetivos. Futuro que inspira e valoriza o presente, no hoje que se tem para preparar o amanhã que vem.
A borboleta, “parece flor que o vento tirou pra dançar” (T. Mágico), linda e surpreendente que enfeita os jardins do mundo. Mas é bom recordar que um dia, ou muitas dias, esteve no casulo, lugar da sua transformação.
As pessoas livres, aquelas que se decidem mudar cada vez mais (pra melhor). Isso não é um perfeccionismo interminável, nem tampouco um narcisismo exagerado. É a proposta de vida, é humildade em reconhecer os limites, é ter no coração um solo fértil, é viver a dinâmica normativa do amor, na exigência da própria consciência. O que somos em ato já o fomos em potência e o que somos hoje garante-nos a potência de sermos ainda mais. Porém, a mudança só é perfeita quando parte da liberdade, é então opcional, na motivação presente ou não no coração.
Sim, todos nós temos defeitos e sempre os teremos. Mas isso não justifica, não paralisa, não define o que nos constitui.
Somos árvore, obra de arte, imagem, diamante, borboleta. Somos mutáveis. Somos então: Fruto, Beleza, perfeição, brilho e liberdade.