AMANHECE

Amanhece outra noite não dormida.

Já é dia de novo na janela.

Outra noite... o que foi que fiz com ela?

Fiz com ela o que fiz com minha vida.

Fabriquei labirintos sem saída

e na entrada fiquei de sentinela.

Hoje o sol da existência me revela

que viver é porção sob medida.

Ao nascer somos presos num guindaste

e subimos de pernas para o ar

e na tola ilusão de bem-estar

desejamos que mais e mais se afaste.

Fui alçado em guindaste de egoísmo

como todos que sonham ir além

e se perdem... e perdem até quem

poderia livrar-lhes desse abismo.

Somos isso e talvez nem percebamos...

Senão todos, quem sabe a maioria...

Somos filhos da mesma fantasia

iludidos com tudo o que sonhamos.

Confundimos altura com tamanho,

outras vezes, controle com domínio;

invertidos, perdendo o raciocínio,

somos mesmo um bichinho muito estranho.

Porém quando o guindaste se aproxima

- porque ao chão nos terá que devolver -

só aí conseguimos perceber

que a vida é ilusão vista de cima.

São Paulo, 19/04/2011 – 19h18min