De que dor eu venho?
Ah, de que dor eu venho, assim, pedaço
que, do que fui, chego a ti tão nada?...
que mares cruzei, que caminho, que espaço
de coração urgente e alma descompassada?...
E, agora, para ti, o que eu digo ou faço
que justifique a tua espera desesperada?...
que olhar te dou, que beijo, que abraço
se é tão pouco o que te traz minha chegada?...
De que desesperos eu venho, de que breus,
de que tenebrosos rumos, de que umbrais
que tão longe meus sonhos deixei dos teus
e, louco, condenei a tua certeza aos ais?...
E por que venho reacender os madrigais
se, em mim, o que foi luz já se extenua;
se tu mereces o riso, a vida e muito mais
e se eu só mereço morrer de saudade tua?...