De que dor eu venho?

Ah, de que dor eu venho, assim, pedaço

que, do que fui, chego a ti tão nada?...

que mares cruzei, que caminho, que espaço

de coração urgente e alma descompassada?...

E, agora, para ti, o que eu digo ou faço

que justifique a tua espera desesperada?...

que olhar te dou, que beijo, que abraço

se é tão pouco o que te traz minha chegada?...

De que desesperos eu venho, de que breus,

de que tenebrosos rumos, de que umbrais

que tão longe meus sonhos deixei dos teus

e, louco, condenei a tua certeza aos ais?...

E por que venho reacender os madrigais

se, em mim, o que foi luz já se extenua;

se tu mereces o riso, a vida e muito mais

e se eu só mereço morrer de saudade tua?...

Marinhante
Enviado por Marinhante em 24/11/2006
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