Um Ramo Liricamente

O gerânio sempre

cumpre

seu previsto ciclo

de flor/ação.

Vi um ramo desse gênero floral

a

c

i

o de folhas aveludadas

quais orelhinhas de bebês

(humanos ou animais)

ser jogado num monturo

após podarem-no da moita

de um jardim “cheio demais”.

Havia botões grenás, num tom escuro,

espalhados pelo galho decepado.

Ao passar, apanhei um raminho

com uma flor semi-aberta,

presa ao fiel pedúnculo,

cercado de folhas

e depois o deixei, sobre a mesa de trabalho

num copo de papel, cheio de água mineral.

Era sexta-feira – e parti para o fim-de-semana,

um tanto cansada, com medo da solidão recente...

Quando, na segunda, passei novamente,

pelo terreno baldio

(para onde fora desterrada

a ramagem prenhe, cheia de vida incubada,

desafiando a morte provável)

deslumbrei-me ao vê-lo, resistindo,

rebentando em vermelho, lindo,

de flores abertas, cachos como um presente

generoso, gratuito, oferta de perdão.

Talvez à mão

que o decepara sem clemência...

Impulsivamente, tratei de recolher

o ramo encantador,

pensando em plantá-lo mais tarde,

privilegiando-lhe a resistência...

E ao chegar à repartição,

novo encantamento

comecei a sorrir:

o botão, que eu deixara na

semana anterior,

estava totalmente aberto,

agora,

oferecia-se a mim

como um pequeno coração....

Minha tristeza foi-se embora

numa concessão àquela beleza

mera e natural,

ao grande pequeno milagre

da natureza...

E desde aquele momento

tenho, por meta, ser como os gerânios,

e florescer... apesar de...

(De Historietas Poéticas-PPP:Projeto Poesia no Pano)