SOU ÍNDIO**

Sou índio porque vivi liberdade,

abracei mata, bichos, águas claras

e fui onça solta, sagaz.

Sou Portugal porque me trouxeram saudade,

me deixaram náufragos, degredados, aventureiros,

me aportaram naus e navegantes.

Sou negro porque bebi áfricas,

dancei mágoas, gritos, açoites, senzalas...

porque fiz do arreio revoltas.

Sou brasileiro porque me enfiaram povos,

misturaram gente, mataram os natos

escravizaram negros, humilharam pobres.

Sou triste

porque me impuseram armas

me sacaram terras, me levaram ouro.

Sou alegre

porque engoli batuques

e vomitei e frevos, maracatus, sambas e axés.

Sou urbano porque

me empurram estrada, me expulsaram o sertão,

plantaram cercas, secaram águas.

Se ainda não sou povo

porque faltou escola

terra, igualdade, prosperidade, união.

cp-araujo@uol.com.br