SEDE, FOME E ESCÁRNIO
Tudo o que eu tinha investi em vento
e saudade.
Esgotei lágrimas,
iludi-me com a luz da cidade.
A fome não tem morada
perambulo nela, sem teto.
O amanhã não é certo,
só há o resto, a solidariedade de uns.
O silêncio da noite mente
esconde murmúrios, lamentos
e não fotografa por dentro.
Só o sonho é ilusão doce de paz,
um vento que remove montanhas,
sacode poeiras
e desmancha horrores.
É uma excursão da alma.
Mas o dia chega.
Cidade:
redemoinho de homens sem cara,
solo fértil das futilidades,
anseios infrutíferos,
espaço amplo que não cabe quem na vida desanda
ou quem nela chegou tarde.
Só sede, fome e escárnio são o que hoje me cabem.