a falta de não ter a quem amar, que falta faz...
A falta de não ter a quem amar, que falta faz...
O amanhecer sempre ligeiro e sóbrio;
O entardecer sempre lânguido e sutil;
O anoitecer vagaroso e simples;
Assim são os dias dos solitários, dos não enamorados;
Uma eterna constância;
Um eterno alvorecer e pôr de sol, sem maiores revelações;
Um céu de um azul sem nuances, sem graça;
Uma brisa chata e insistente;
Um mar calmo, modorrento, pueril.
Ah, Senhor, que falta nos faz um amor!
Ah, que falta de amor, sente o mundo!
Até a natureza é condescendente com essa ausência do bem querer!
Precisa-se urgentemente de um amor-paixão.
Desses que viram a cabeça e todas as coisas!
Que faz o dia amanhecer, entardecer e anoitecer rapidamente!
Que se revela em ventos, tempestades, trovões, vulcões, furacões!
Que faz o mar agitado e belo, como só as marés sabem ser!
Que pinta o céu de azul, amarelo, vermelho e porque não, negro?
Precisa-se de um amor- revolução;
Desses que alteram o estado de humor;
Que tira a fome, o sono, o bem estar!
Que mata de desejo, de vontade e loucura!
Que embriaga, entorpece, ensoberbece!
Ah, queremos o amor que constrói, destrói, muda o status quo.
Por que quem precisa de estabilidade, constância, rotina, mesmice?
Precisa-se, isso sim, de um amor-insano;
Cheio de vida, indecisão, abandono, entrega;
Desses que causam arrepios, náuseas, febre e frio;
Que adoece, chacoalha, tira do chão.
O amor-bebida, amor-droga, amor-cigarro, o amor-vício.
O amor que não pode ser singelo, nem simples, nem mais ou menos.
O amor com gosto de confusão, incerteza e inexatidão.
O amor diferente de todos os outros, o único;
O amor da gente, difícil de explicar, imcompreensível;
O maior amor do mundo, exagerado;
Tem que ser amor e não uma desculpa para escapar da solidão!
Nina Barros
22/10/05