o fim

O fim

Como tudo se acaba?

Rijo e forte como tudo começa,

Na mesma intensidade, mesmo torpor, idêntico êxtase;

Uma mistura de sons e cores, sabores e odores;

Uma confusão sensorial, um estado poético de alma;

A mesma necessidade do início é a do fim,

Necessário é que seja uma ou várias necessidades;

Afirmar-se, transmutar-se, evoluir-se, dissipar-se;

Adeus, oi, até um dia, seja bem vindo, tchau, fica mais um pouco.

Sentirei saudades, talvez isso doa muito,

O que é certo hoje, amanhã perderá a exatidão;

O talvez de hoje, a certeza do daqui a pouco.

O nunca de ontem chegou hoje.

Não preciso mais de você, foi bom enquanto durou,

Mas agora deixe me andar, preciso ir...

Não, não foi pouco tempo, essa noção não existe:

Foi o tempo suficiente para nascer, crescer e morrer;

Ciclo natural da vida e também da morte.

Não te dei certeza do que não tinha,

Se jurei aos pés da cruz, fui herege, não precisa perdoar.

Leve sua dor, é sua e de mais ninguém;

É o pedaço que lhe cabe deste chão, é sua missão sofrer por mim...

É meu privilégio ir embora, faz parte da ciranda.

Foi mais carência que amor, uma necessidade, eu já disse.

Nada é para sempre, você sabia disso, preferiu arriscar,

Agora não reclame, pegue o fim e recomece.

Os fins doem, torturam, machucam, fazem sofrer,

Mas são da vida, só os têm quem tem fôlego.

Sinta esse arremesso ao chão, a dor da queda brusca.

Sinta-se adentrar o solo, juntar-se à terra.

Entrastes dentro de mim, é bem verdade,

Ainda o sinto aqui, latejando em meu corpo.

Sinto seu hálito, seu sêmen e todo seu gozo,

Entretanto, tudo isso já é cinza, já não pode mais,

Perdeu-se no minuto que chegou.

Lembra-te do que foi dito: Visto que é pó,

Do pó vieste, ao pó voltarás:

Volta agora teu amor ao pó,

Porque ele, sublime e soberano, também é pó

E seu destino é a terra, o esterco, os germens.

Portanto, amado meu, agora posto no passado,

Um conselho dou- te: volta teu amor ao pó!

Nina

16/01/06

ninethe
Enviado por ninethe em 19/01/2007
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