Poema em Sol Maior

Calma, seja paciente!

Aquiete o ânimo agitado.

Abandone o incômodo que agora sente.

A manhã incandesce feito lava de vulcão inflamado.

O mínimo esforço aquece ainda mais o coração ardente.

O clima acima do vermelho, no topo, quente, muito abafado.

Brota, na pele ensalmourada, lágrima de suor esvaecente.

Permito-me um grito neste vácuo escaldante.

Há de ser um berro seco neutro calado, petrificado, sólido.

Um uivo sem cor, gelado e branco, como branca

a noite de Dostoieviski ou a cegueira de Saramago.

Recolho-me em meditação qual defunto bem morrido,

sem lamento, a face serena, a vida entregue sem condição,

cônscio e desobrigado do dever descumprido.

O insuportável passa, segue atribulado ao encontro de outra aflição.

Ascenda uma luz, desde que fria, abundande de clareação.

Desentristeça meu canteiro descolorido no sol polar do dia.

Traga-me a lua alegre, vistosa, suntuosa e cheia de verão.

Rogue a ninguém uma prece e ofereça aos inimigos, ainda que tardia.

Wagner de Oliveira
Enviado por Wagner de Oliveira em 05/04/2012
Código do texto: T3596211