O sofrimento da pátria

O mar finge voar sobre o céu,

Enquanto os homens fingem navegar,

Mas por que tanta mentira, qual véu

Negro de mulher branca à face a resguardar...

Mas que tiro será esse que os homens mandam

Para o peito da prostituta? Será seu leito presto

Feito nas armadilhas do poder?

Mas que festa será essa, que dançam

Os seus filhos, que afoitos gritam prontos

Para morrer com a mãe sem ceder...

Mas por que tanta desgraça, tanta tristeza?

Quem fez a adaga que se crava feia no seio ao luar?

Que vampiro indefeso faz-se vítima preso a se resguardar?

Será esquecer-se desta prostituta maior vileza,

Ou matá-la por a usar?

Sim, sou náufrago deste brigue amaldiçoado a navegar...

Mas por que não há filho que proteja esta mãe tão vil,

Pois se vende ao seu assassino, sem lembrar da cria,

Mas pensando nela sobe e desce qual musa do poeta,

Que vive e desperta neste mundo que não se previu

O futuro desta raça, que este poema recria

Tão misericordioso quanto um profeta...

Sim, sim! Enlouquecem os seus poetas,

Pois não há mais o que escrever!

Quão imundo é este cenário de amantes a morrer...

Mas quem será mais infame? O profeta

Dessa puta a se afogar e entrever

O seu filho nascer na sua hora de morrer...

Ulisses de Maio
Enviado por Ulisses de Maio em 10/04/2012
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T3605357
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