CONTRA A MISERABILIDADE DESTE TEMPO (isadora Ducan)
Este é o nome artístico de Dora Angela Duncanon (nascida em São Francisco, 27 de maio de 1877 — falecida Nice, 14 de setembro de 1927) não era poeta, no sentido estrito da palavra. Foi dançarina e revolucionária. Na dança na vida, na política tinha como meta a liberdade, é claro que se equivocou nesse caminho, acreditando na Revolução Russa, mas quem não acreditaria naquele tempo, sendo de esquerda. Em Isadora, fragmentos autobiográficos, livro editado no Brasil pela LP&M, ela fala da sua vida atribulada e marcada pela tragédia, das suas idéias e sonhos – nele exala poesia involuntária pela prosa, pelos poros.
JUNTEI FRAGMENTOS ESPARÇOS E MONTEI ESSA POESIA QUE PUBLICO AQUI, A DESPEITO DOS 135 ANOS DO SEU NASCIMNETO, EM 27/MAIO.
Não! eu não quero esse amor
assim maternal, egoísta e restrito
Eu busco o amor puro altruísta
o amor maior sentido por Cristo e Buda
e que Lenin dispensou ao povo.
Não! eu não quero essa dança
assim contida, restrita e passiva.
Eu quero dançar com alegria atroz
terrível, louca e feroz,
nua e só diante da imensidão do mar.
Não! Eu não quero essa mulher
assim sentimental, triste e virtuosa,
que só sabe sofrer e chorar.
Eu anseio uma nova mulher,
gloriosa e do corpo mais livre;
aquela que seja o inverso do medo
afirmadora do eros e corajosa,
um autêntico espírito livre,
contestadora do miserabilismo
em todas as suas formas.
Não! Eu não quero esse mundo assim:
nutrido por mentiras reais,
por egoísmo, dinheiro e poder
e crianças dormindo nos umbrais,
sem teto, sem escola e sem amor.
Não! Eu não quero o homem como ele é,
o que vê a mulher como posse, objeto,
um litro de uísque a ser esvaziado;
aquele que, para se sentir amado,
precisa d’alma feminina com os pés atados;
aquele que fala do amor materno
como a coisa do mundo mais sagrada
mas ama apenas seus braços e pernas;
ama na mãe uma parte de si mesmo.
Da mulher só quer o corpo e a alma cativa.
Esse homem, esse mundo, esse amor...
são distorções, maldições, estreitos princípios
de um tempo de egoismo, dinheiro e teorias -
geradores da monstruosa injustiça do mundo.
Ah! O que então eu quero da vida?
- Vida, solidariedade, harmonia, liberdade,
crianças felizes, alegria nos corações,
almas generosas. Canções e dança para todos.
Sei que o que quero não é pouco
Mas nunca será pouco querer a verdade.
O sol brilha sempre.
Se não fomos nada, seremos tudo.
O texto acima foi inspirado em Isadora Ducan; são essencialmente idéias e frases esparsas desta dançarina e revolucionária do início deste século formatados e alinhado em versos por Célio Pires de Araujo.