URBISDECÊNCIA
URBISDECÊNCIA
pássaros urbanos em revoada
as ruas do centro ainda
tão cheias do sol mas já perto da noite
num dia de semana normal
vou caminhando de mocassins
sobre as pedras largas
na calçada da Praça Quinze
depois de sair de uma exposição
sobre o Niemeyer no Paço Imperial
meus olhos estão plenos
de sólidas curvas femininas
que pulam (as curvas)
da arquitetura
para o delineio dos corpos
na perfeita vantagem
de rodear os seios
sob os vestidos
ou no mourejado balanço
das mulheres que caminham
à minha frente
mas enfim
o Rio de Janeiro vai fervilhando
desta gente laboriosa
apesar do sol
e eu aqui poeta diletante
só pensando em sacanagem
a cidade me absolve
e por certo me entende sim
e o Brasil também
que ali na multidão agitada
já saúda-me sorrindo
tão displicentemente.
E vai-se renovando o lirismo
que se envergonhara de mim