URBISDECÊNCIA

URBISDECÊNCIA

pássaros urbanos em revoada

as ruas do centro ainda

tão cheias do sol mas já perto da noite

num dia de semana normal

vou caminhando de mocassins

sobre as pedras largas

na calçada da Praça Quinze

depois de sair de uma exposição

sobre o Niemeyer no Paço Imperial

meus olhos estão plenos

de sólidas curvas femininas

que pulam (as curvas)

da arquitetura

para o delineio dos corpos

na perfeita vantagem

de rodear os seios

sob os vestidos

ou no mourejado balanço

das mulheres que caminham

à minha frente

mas enfim

o Rio de Janeiro vai fervilhando

desta gente laboriosa

apesar do sol

e eu aqui poeta diletante

só pensando em sacanagem

a cidade me absolve

e por certo me entende sim

e o Brasil também

que ali na multidão agitada

já saúda-me sorrindo

tão displicentemente.

E vai-se renovando o lirismo

que se envergonhara de mim

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 12/02/2007
Código do texto: T378280