Sacrifício ao Cordeiro

Advertência desnecessária para os ocultos: Gostaria que esse segredo fosse lido por quem de alguma maneira reconhece que há coisas inauditas e que sabe pelo toque das estrelas que um caminho novo dura feridas para ser construído.

Como quem esteve aqui um dia,

Um cometa visitou meu leito

De areia e neve.

E lá ficou quieto, mudo, meigo.

Os acordes da Aurora varre o orgulho noturno.

O sol desperta vida no dentro das coisas.

Um pardal recita poemas camonianos

Em língua portuguesa.

Linda interpretação!

Mas o cometa passou pelo meu quarto.

E o deixou em fogo vivo,

Ardendo na pele o nosso desejo,

Queimando na alma o proibido.

Não sacrifiquem o Cordeiro.

Antes, devorem os meus olhos,

Para que não mais veja.

Arranque-me a pele com lâmina de ouro.

E faça de meu corpo templo dos desejos.

Por que nunca soube o que senti?

Por que nunca olhou e viu?

Sempre, sorriso tão ausente.

Sempre, as reticências...

Já é Tarde,

Ainda há Primavera.

Deixe-me ir, agora.

Deixe-me tentar mais uma vez.

A minha pele precisa veranear o horizonte.

Inscrevi meus segredos sob pedras sagradas.

E querbrá-las fez surgir faíscas de fogo e gelo

Por todo lado, por todo dentro.

Todas as estações se encontram no seu olhar.

Minhas mãos caminham ao seu encontro,

Porém não as vê.

Não as sente.

Apenas a dor do desejo ocultado.

Há amor e uma completa descoberta.

Falaremos de olhos fechados

Com voz sumida na escuridão.

Dedos passeando pelo seu corpo

Pele suada, quente, roçando a minha.

Língua conhecendo os sabores sinceros da carne.

Braços enrijecidos pelo desepero das sensações.

A vontade manifestada na força dos movimentos.

Na calmaria de um quarto,

Um Cometa arde em chamas.

Alguma coisa foi sacrificada ao Silêncio.

O mesmo pardal recita outros versos...

Amael Alves Rabelo Júnior
Enviado por Amael Alves Rabelo Júnior em 15/02/2007
Reeditado em 31/03/2008
Código do texto: T382458
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.