Glutões
(Inspirado num programa de culinária na TV onde os apresentadores se assemelhavam lobos vorazes)
ARGUMENTO
Fazem jantares para a nobre gente
As Luzias das saias remendadas
Favorecem-nas baldes d'água quente
Para depenarem as galinhas degoladas
Que assassinadas foram juntamente
Com um peru ébrio d'aguardente.
Afiam facas e machadinhas
Armam-se de garfo, colher e cutelo
Vão atrás de patos e mais galinhas
Que hão de ser jantados no castelo.
CANTO I (E ÚNICO)
O barão e a baronesa esfaimados
Na altíssima mesa se acomodam
Servos sóbrios e bem lavados
Servindo-os à mesa rodam.
Comprometendo a fome humana
Com as fomes da besta-fera
Devorando tudo como uma insana
A baronesa grunhe e vocifera:
" - O jantar está uma delicadeza
Só faltou servirem à mesa
Os pombos que moram no telheiro
E banham-se na bica do terreiro!"
Em breve partem as Luzias cozinheiras
Trepando nas torres do palacete
Equilibrando-se nas cumeeiras
Levam para os pombos facas e macete.
Terminando o estranho molho
Eis a grande fome que não acaba
E a baronesa suja de baba
Diz: " - Aah, que beleeeeeza!"
Após o grandiloqüo repasto de iguarias
Feito de bois e pombos, galinhas e perus
Triste por não saber o que mais comeria
Transpirando, a baronesa faz o sinal da cruz
(e exclama):
" - Ai que coisa mais boa,
Comeria outra leitoa
Juntamente com o leitão...
Me acompanhas, esposo barão?"
" - Claro, claro, querida esposa
Antes porém, comamos uma raposa
Depois toda a família do leitão
E para encerrar, comeremos o cão!"
E depois de comerem a raposa, o cão e mais um cabrito
O barão estava tendo um faniquito
Chorava dizendo: " Vida má: morrerei sem nunca comer mosquito!"
A baronesa também estava muito mal
E jurava que daria os títulos e castelos dela
Por um quilo de vitela
E dez de sonrisal.
MORAL DA ESTÓRIA: Eles morreram.