Glutões

(Inspirado num programa de culinária na TV onde os apresentadores se assemelhavam lobos vorazes)

ARGUMENTO

Fazem jantares para a nobre gente

As Luzias das saias remendadas

Favorecem-nas baldes d'água quente

Para depenarem as galinhas degoladas

Que assassinadas foram juntamente

Com um peru ébrio d'aguardente.

Afiam facas e machadinhas

Armam-se de garfo, colher e cutelo

Vão atrás de patos e mais galinhas

Que hão de ser jantados no castelo.

CANTO I (E ÚNICO)

O barão e a baronesa esfaimados

Na altíssima mesa se acomodam

Servos sóbrios e bem lavados

Servindo-os à mesa rodam.

Comprometendo a fome humana

Com as fomes da besta-fera

Devorando tudo como uma insana

A baronesa grunhe e vocifera:

" - O jantar está uma delicadeza

Só faltou servirem à mesa

Os pombos que moram no telheiro

E banham-se na bica do terreiro!"

Em breve partem as Luzias cozinheiras

Trepando nas torres do palacete

Equilibrando-se nas cumeeiras

Levam para os pombos facas e macete.

Terminando o estranho molho

Eis a grande fome que não acaba

E a baronesa suja de baba

Diz: " - Aah, que beleeeeeza!"

Após o grandiloqüo repasto de iguarias

Feito de bois e pombos, galinhas e perus

Triste por não saber o que mais comeria

Transpirando, a baronesa faz o sinal da cruz

(e exclama):

" - Ai que coisa mais boa,

Comeria outra leitoa

Juntamente com o leitão...

Me acompanhas, esposo barão?"

" - Claro, claro, querida esposa

Antes porém, comamos uma raposa

Depois toda a família do leitão

E para encerrar, comeremos o cão!"

E depois de comerem a raposa, o cão e mais um cabrito

O barão estava tendo um faniquito

Chorava dizendo: " Vida má: morrerei sem nunca comer mosquito!"

A baronesa também estava muito mal

E jurava que daria os títulos e castelos dela

Por um quilo de vitela

E dez de sonrisal.

MORAL DA ESTÓRIA: Eles morreram.

Marcos Aurelio Paiva
Enviado por Marcos Aurelio Paiva em 28/02/2007
Código do texto: T396754