Fio d’água
O amor promíscuo pelas
pessoas do mundo,
marginais do rio onde
minhas veias desaguam,
nasceu como todo amor
de uma fonte limpa,
embrenhou-se entre pedras,
verdor da juventude,
vales laborais de uma
agricultura de subsistência
onde deixou seu limo
nas margens do rio.
Ergueu projetos, mas
sempre morou no chão
e se, hoje, sem turbulência,
surge sob o céu azul,
saibam ter sido também
rio subterrâneo,
sumidouro, fio d’água,
onde matei a sede
mesmo em solidão,
antes do estuário onde
ao tornar-se horizonte
o rio se tornou cheiro
do mundo com todos
perfumes e odorantes
de cais e de jardins
às margens das capitanias
de onde o mar passado
a limpo, beija as pedras
com o mesmo cuidado
que as espias de um navio
amarram-no ao porto.