POEMA FÚNEBRE

Quando eu morrer

Quero um recital de poesia

De corpo presente.

Por favor, não permitam

Que pessoas hipócritas

Peguem na alça do meu caixão

Porque ela esquentará

E queimará suas mãos.

Não deixem que os escravocratas

De terno e gravata

Donos das algemas de papelão,

Se aproximem para olhar o meu rosto pálido

Porque meu defunto

Lhes cuspirá na cara.

Não permitam nunca

Que seres insensíveis e indiferentes

Venham ver meu cadáver inerte

Porque lhes xingarei entre dentes.

Não permitam nunca

Que pessoas sem garra,

Sem conteúdo

Ou sem ideais

Fiquem dizendo pro meu corpo duro:

- Ele era tão bonzinho...

Que eu me levantarei

Mandarei todos à merda,

Pegarei meu caixão

E irei me enterrar sozinho.

madrugada de domingo, 10/06/84

Poema teatralizado pelos grupos "Poça D'água", "Jograrte", "Neurose", entre outros.

Publicado nos livros: "Criança" e "Antologia Poética PASSA NA PRAÇA QUE A POESIA TE ABRAÇA".

Sergio Alves poeta
Enviado por Sergio Alves poeta em 22/01/2013
Reeditado em 22/01/2013
Código do texto: T4098479
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