POEMA FÚNEBRE
Quando eu morrer
Quero um recital de poesia
De corpo presente.
Por favor, não permitam
Que pessoas hipócritas
Peguem na alça do meu caixão
Porque ela esquentará
E queimará suas mãos.
Não deixem que os escravocratas
De terno e gravata
Donos das algemas de papelão,
Se aproximem para olhar o meu rosto pálido
Porque meu defunto
Lhes cuspirá na cara.
Não permitam nunca
Que seres insensíveis e indiferentes
Venham ver meu cadáver inerte
Porque lhes xingarei entre dentes.
Não permitam nunca
Que pessoas sem garra,
Sem conteúdo
Ou sem ideais
Fiquem dizendo pro meu corpo duro:
- Ele era tão bonzinho...
Que eu me levantarei
Mandarei todos à merda,
Pegarei meu caixão
E irei me enterrar sozinho.
madrugada de domingo, 10/06/84
Poema teatralizado pelos grupos "Poça D'água", "Jograrte", "Neurose", entre outros.
Publicado nos livros: "Criança" e "Antologia Poética PASSA NA PRAÇA QUE A POESIA TE ABRAÇA".