POEMA DOIDO
O poeta só tinha prazer
Declamar, biritar, namorar
Ao lado de Baco e Dionísio
Cercado de vinhos e ninfas
Nos braços de Afrodite, a vadiar
O Criador, talvez por castigo
Por destino, karma, expiação
Enviou o poeta em difícil missão
De levar claridade
Onde reina a escuridão
Disse o criador, bonachão:
- É fácil cantar belas praias
Belo corpo, imortalizado em canção
Quero ver poetar onde a vida
Não tem nenhuma ilusão
Onde a poesia pro povo
Não paga o preço de um pão
Toca pra periferia
Pra baixada, Zona Oeste
E vai versar com os emecis
O Bill, o Pavilhão, Os Racionais
Negras cidades e Lis
Esvaziar umas e outras
Com Moduan, Tabosa e Totó
Zé Cordeiro, Flávio Nascimento
No bar cinquenta e um
Onde rola um recital
O Dalberto, sempre irreverente
Te espera sorridente
Lá na lona cultural
Chama o Mano Melo e o Iverson
O pessoal do Conversa com Verso
O Edgard Negão e o Chacal
Vai rolar uma homenagem
Ao Torquato, ao Leminski e ao Samaral
Vai ter poesia concreta, erótica, tropicalista
Soneto, verso branco e marginal
Tem Drummond e Oswald de Andrade
Gullar, Bandeira e João Cabral
Poesia na praça, na favela
Na escola, no teatro e coisa e tal
Poesia declamada, sussurrada, cantada
Grafite, Hai Kai e jogral
E o poeta que por castigo
Destino ou expiação
Descobriu seu povo sofrido
Que por ter sobrevivido
Abandonado à própria sorte
Resiste com pulso forte
Às intempéries da vida
Patativa nos deu o mote
De uma luta de valor
Um povo guerreiro e criatiro
Que não aceita ser cativo
E enfrenta a opressão e a dor
O criador mostrou ao poeta
O que é comunidade
Participação, mobilização
Carinho, solidariedade
Valores nascidos no seio
De quem percebe a verdade
Verdade compartilhada
Aos puros de coração
Que sabem o valor da amizade
Olho no olho, mão na mão
Só a poesia transmite
Essa energia de irmão
Com ela a palavra é uma arma
Que corta como facão
Cultura, luz que liberta
Um povo de toda opressão
Água pura, cristalina
Que aliada à Educação
Sacia, conduz, ilumina
REVOLUÇÃO!!!
03/08/2005